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Findando mais um ano...
Momento de reflexão.
Sim, é dezembro novamente e estamos todos mais do que nunca sem perspectiva para as
festas comemorativas de final e início de ano. O maior desejo nem é estar reunido com nossa
família e familiares, mas sim saber que todos estão vivos e bem, sendo um grande motivo para
agradecer a Deus por enorme privilégio.
A humanidade já vivenciou outros episódios de epidemias, talvez tão graves quanto a atual,
tais como a peste que assolou a Europa nos séculos XIII e XIV, dizimando quase um terço de
sua população, ou o desaparecimento de grande parte da população ameríndia entre o século
XVI e XVIII através dos vírus trazidos pelos colonizadores europeus. Nossa geração, contudo,
jamais havia passado por esta experiência, a não ser assistindo filmes diatópicos ou de ficção
científica. Embora alguns grandes epidemiologistas têm dito que fomos muito ingênuos em
não termos previsto a possibilidade de um contágio em massa por um vírus letal, a bem da
verdade, ninguém levava a sério esta possibilidade. Tampouco os primeiros casos na China
despertaram, nos outros continentes, um medo em relação a uma possível pandemia. Fez-se
necessário que seus países fossem massivamente infectados para que a realidade caísse nua e
crua diante de seus olhos. Até hoje, países como o Brasil continuam a negar a gravidade do
problema, ainda que o número de mortos aumente diariamente, e tornamo-nos pouco a
pouco um dos países com o maior número de pessoas infectadas.
Janyne Sattler nos apresenta um belo e instigante texto, intitulado Suspensão. Nele, ela
descreve a incerteza do futuro, bem como o terror do presente. Imagina como será a nova
vida Reflexões sobre uma pandemia, 16 com a presença do vírus. Como serão nossas aulas?
Voltaremos a elas? O que podemos esperar de um mundo tomado pela pandemia? Ela nos fala
também sobre a política higienista em relação à cor e a classe social daqueles que morrem
primeiro, da ojeriza à velhice, das políticas neoliberais que agora nos mostram o estrago
daquilo que não foi feito. Ela nos apresenta o pânico da verdade: “Daqueles que sempre
morreram primeiro, e para os quais sempre houve a ‘vala comum’, inominada e sem
lembrança, cujo luto nós nunca fizemos no país da interminável, irreparável, escravidão. Que
escancara o mal-estar dos vulneráveis aptos pela política pública do sacrifício em nome do
mercado e das portas abertas do mercado. Esse é o pânico de verdade, até para aqueles que
serão sacrificados. ” Com um olhar que penetra nos detalhes do nosso cotidiano, consegue ao
mesmo tempo descrever e refletir sobre as minúcias da nossa nova aterrorizante realidade. E
aguarda: “Eu estou à espera, e não sei muito bem do quê, mas talvez de saber quanto tempo
vai levar para que o abraço venha a ser permitido novamente. ” Joel Klein no seu ensaio O
papel político da comunidade científica e dos intelectuais e o caso da pandemia do corona
vírus afirma que três esferas no Brasil.
No texto sobre Alegria maligna, Vilmar Debona e Cláudia Dias indagam sobre a razão do riso
macabro em relação à pandemia, resgatando o conceito de Schadenfreunde em
Schopenhauer. Eles nos mostram que essa concepção, retirada do mal ou maldade, é
infelizmente atual no cenário da pandemia no Brasil, como uma expressão do Bolsonarismo.
Segundo Schopenhauer, o indivíduo teria três princípios que poderiam servir como motivação
para suas ações: egoísmo, a maldade e a Reflexões sobre uma pandemia, 20 compaixão.
Enquanto a compaixão quer o bem alheio, a maldade refere-se a querer o mal alheio;
enquanto a motivação egoísta pode causar dor a outrem como meio para atingir os fins do
agente, a motivação maligna leva a sentir prazer com o dor alheia ou mesmo a eliminação do
outro. A alegria maligna é o sinal mais inequívoco de um coração mau. Os autores detectam
essa alegria macabra nas palavras do presidente, tais como “eu não sou coveiro”, ao ser
perguntado sobre as medidas governamentais em relação à pandemia, ou o “O que fazer? Sou
messias, mas não faço milagres”, dito num momento em que as mortes por COVID-19 já
cresciam assustadoramente.
Cristina Foroni Consani* Desde o início da pandemia do coronavírus, em razão da ausência de
vacina ou de medicação eficaz contra o vírus, a Organização Mundial da Saúde tem
recomendado aos Estados a adoção de medidas de isolamento e de distanciamento social
como formas de diminuir o contágio e a propagação do vírus. Essas medidas são consideradas
importantes para não causar o colapso dos sistemas de saúde, com a consequente violação de
direitos humanos, e também para evitar um grande dilema ético para os profissionais da área,
a saber, escolher qual paciente em estado grave terá uma vaga em uma unidade de terapia
intensiva, qual paciente terá a chance de sobreviver e qual provavelmente irá morrer. O caso
brasileiro talvez seja o mais ilustrativo dos danos que um governo pode causar à sua população
ao omitir-se na adoção de medidas de proteção à saúde e à integridade física de A soberania
dos Estados e os limites das instituições internacionais.
Como tem sido notificado diariamente na imprensa brasileira e internacional, desde que os
primeiros casos de COVID-19 foram identificados no Brasil, a única medida adotada para
proteger a população foi o isolamento social, incentivado por um ministro da saúde que
entrou imediatamente em conflito com o presidente da República e implementado, de forma
mais ou menos rigorosa, pelos governadores dos Estados. O poder executivo federal, em nome
da defesa de interesses econômicos, tem feito tudo que pode para boicotar o isolamento
social, condenando publicamente os governadores de Estado que o adotaram. Ademais, em
demonstrações públicas de descaso com os riscos impingidos à população, Bolsonaro tem
violado recomendações da OMS e de especialistas sobre o tema, criando aglomerações de
pessoas e circulado sem o devido uso de máscaras. O próprio presidente da República zomba
da ciência e faz, por si mesmo e por meio de seus apoiadores, propaganda de medicações sem
resultado comprovado contra o vírus. Soma-se às dificuldades criadas pelo governo federal
para a manutenção do isolamento social, o fato de que o Brasil é um dos países do mundo com
menor número de testes realizados. Hoje, o número de exames por milhão de pessoas é 1.597,
enquanto em outros países também muito afetados pela pandemia o número de exames
realizados é expressivamente mais alto, como, por exemplo, na Itália (34.879 por milhão de
pessoas), na Espanha (32.699 por milhão de pessoas) e nos Estados Unidos (21.025 por milhão
de pessoas). Desse modo, são muitas as pesquisas que apontam para a subnotificação do
número de casos e de mortos pela COVID-19 no Brasil. A subnotificação torna o quadro ainda
mais perverso, gerando insegurança para a população e contribuindo tanto para o discurso de
que o isolamento social é desnecessário quanto para a não destinação de recursos públicos
emergenciais para a área da saúde, que já enfrenta uma situação gravíssima. Em alguns
Estados da federação o sistema de saúde já está sobrecarregado: faltam profissionais, faltam
equipamentos de proteção individual, faltam leitos, faltam respiradores e já começam a ser
levantadas as propostas de estabelecimento de um protocolo de prioridades na distribuição
dos recursos disponíveis.
Texto do livro: Reflexões sobre uma pandemia
O desejo da Diretoria do SIEMERC é que todos nós possamos superar essa pandemia com
muito respeito ao próximo, tomando todos os cuidados possíveis, para juntos fecharmos o ano
de 2020 com muita gratidão a Deus, e que tenhamos muita saúde e disposição para
superarmos cada obstáculo que surgir em 2021.
Feliz Natal e Boas Festas!!!
DIRETORIA SIEMERC LONDRINA.